GO! Allan
Allan Dahaka d' Matthah
Nome: Alan
Idade: 19
Local de nascimento: Rio de Janeiro
Signo: Peixes
Medidas: 70kg, 1,76m
Qualidade: Me importo muito com o bem estar alheio
Defeito: Me importo muito com o bem estar alheio
Na TV: Jornalismo Humoristico
Ao que não assiste na TV: Programas Dominicais
Comida predileta: Lasanha com massa de panqueca
O melhor do guarda-roupa: Perfumes
Arma de sedução: Cheiro
Homem bonito: Limpo, sóbrio, cheiroso e imponente
Mulher bonita: O tipo de mulher que pouco fala, e muito analisa. Que sabe se vestir, sem exagerar ao vulgar
Hobby: Computador, e celular
Time de Futebol: Não fui criado com costumes 'futebolisticos' rs
Fé: Deus
Viagem dos sonhos: Paris, ou Suiça
Filme: Moulin Rouge
O Rio de Janeiro Continua: Lindo? Nah, muito clichê. Simpatico.
Música: Meet Me Halfway - Black Eyed Peas
Livro: Os do Stephen King, de preferência.
Adoro: Sinceridade
Detesto: Gente falsa e egoísta
Admiro: Pessoas que assumem seus atos
d' Matthah: MORRI
FuhMiguel: Papai *O*
Ser Gay: É uma grande responsabilidade. Dificil saber se as pessoas se aproximam apenas para se aproveitar de vc, ou por realmente por ser quem vc é
Fantasia: Militares e todos os típões Rude Boy que se pode imaginar hahahaha
Primeira Vez: Bebado, foi fácil!
Amor: Mãe
Se fosse para um lugar deserto quem gostaria te der por perto: Ou ninguem, ou minha mãe
Beijo ou Sexo: Pode ser os dois não? Beijo então rs
Parte do corpo que mais Gosta: Olhos, e mãos
Parte do Corpo q mais gosta dos outros: Olhos e mãos
O que vc melhoraria: Orgulho
Meninos do Rio: São os melhores! hahaha
Praia: Não vou muito. gosto de ir com pouco sol, e aguas calmas
Futuro: Técnico, com muuuuuuuuuuito dinheiro rs
Quando nao tenho nada pra fazer: Jogo no pc!
Oque voce faz quando nao tem ninguem te vendo: Escrevo
O que voce qeria fazer se ninguem podesse te ver: Acabar com todos os meus inimigos rs
GO! QL1F Quaze Levy Um Fora...
GO! QL1F Quaze Levy Um Fora...
Quase Levy um fora
Santos à São Paulo. No dia 13 de maio de 1888 foi abolida a escravatura no Brasil, tornado
os escravos livres, e em 1934 a mulher conquistou o direito de votar nesse país.
A palavra INDEPENDÊNCIA vem acompanhando a humanidade há séculos. Todo
mundo sonha em ser independente um dia, viver sem ter que ficar dando satisfações pra
alguém, ganhar seu próprio dinheiro, poder amar livremente sem ser reprimido, coisa muito
difícil em nosso meio cheio de preconceitos e obstáculos.
Foi em uma quinta-feira que tudo começou. Viver na cidade de São Paulo é conviver
com as quatro estações do ano em um dia só. De uma hora pra outra o tempo muda e
quando isso acontecia, eu acabava ficando doente.
Naquele dia eu acordei cedo, tomei um banho bem gostoso e quentinho antes de sair para
ir à aula de inglês. Dentro do metrô já comecei a me sentir mal, não sei se foi o sanduíche
que eu havia comido, só sei que minha barriga estava doendo muito.
-Good afternoon!
-Hello...
Durante a aula não consegui prestar atenção direito na matéria, tive um pouco de enjôo e
dor de cabeça. Ao meu lado estava a Maria que percebeu minha agonia.
-Fe, você está bem?
-Não muito, Ma...
-O que você tem?
-Sei lá, estou com enjôo...
-Você almoçou hoje?
-Sim... Pão com hambúrguer...
-Ai Fe, não fique comendo essas bobagens, faz mal...
-Eu sei Ma, mas não tinha comida pronta em casa, não dava tempo de preparar antes de
vir pra aula.
-Sabe o que é bom? Chá de camomila...
-Sério?
-Quando você chegar em casa, faz um chazinho sem açúcar e toma.
-Vamos ver se passa mesmo.
Saindo do curso passei em um fast-food árabe que havia em frente à escola. Comprei
algumas esfihas e mandei embrulhar para viagem, quem sabe depois de comer algo menos
gorduroso e calórico minha dor passava. Em menos de cinco minutos minhas esfihas já
estavam prontas. Peguei a caixa e fui direto para casa.
Há dias eu já vinha me sentindo mal, achando que iria pegar uma gripe. Quando cheguei
em casa, meu irmão já havia ido pra escola, pois ele estudava à tarde. Coloquei as esfihas
dentro do microondas para não esfriarem e liguei o rádio bem alto. Peguei o aspirador de pó
e fui passar na casa, pois já que eu estava sem fazer nada, não me custava.
Minha dor de cabeça não passava e minha tosse estava contínua. Tomei um comprimido
para ver se melhorava, pois minha cabeça parecia que iria explodir de tanto que latejava,
meus olhos lacrimejavam muito e os espirros eram um atrás do outro.
Deitei na minha cama depois de tomar o chá de camomila com um analgésico. Me cobri
com o cobertor e liguei a TV. Com o controle remoto na mão eu passava de canal à toda
hora, até que acabei adormecendo após o efeito do remédio. Embaixo daquele cobertor quentinho eu dormia bem gostoso até ser acordado pelos latidos da minha cachorra, pois
meus pais haviam acabado de chegar do serviço.
-Ai que canseira... Deixa eu ir tirar essa roupa e depois lavar essa pilha de louça... Cala a
boca Ariel.
-Olha o tanto de louça suja e ninguém tem coragem de lavar...
-O Thiago, como você pode ver, está na rua.
-E o marmanjo do Fernando? Não faz nada o dia todo, só fica dentro de casa...
-O Fernando não anda bem, Vitor.
-Frescura... Não quero nem saber, se até dezembro ele não arrumar um emprego, em
janeiro vai trabalhar comigo no bar, não vou criar filho vagabundo dentro de casa.
Suas palavras ficaram martelando em minha cabeça. Não estava em meus planos
trabalhar com meu pai, pois sua arrogância insuportável o afastava de todos. Era sempre
assim, eu poderia contar nos dedos às vezes que meu pai proferiu um elogio sobre mim.
Sempre seco e arrogante, não só comigo, porém, era algo que me entristecia demais.
No outro dia acordei cedo, peguei o roupão e fui pro banheiro tomar um banho pra tirar o
sono, antes de sair para procurar emprego. Embaixo do chuveiro eu comecei a chorar,
relembrando as palavras do meu pai na noite anterior.
Não entendia o por quê ele me tratava daquele jeito. Eu nunca fiz nada que o fizesse se
envergonhar de mim. Tirava notas boas na escola, modéstia à parte eu era um filho
exemplar. Ouvir de um pai aquelas palavras altamente ofensivas e injustas não é fácil. É
como se eu caísse dentro de um buraco e um caminhão me cobrisse de terra, sufocando-me
pouco a pouco. Lágrimas escorriam dos meus olhos e se misturavam à água que descia do
chuveiro. Passando xampu no cabelo e vendo aquela espuma descendo pelo ralo eu prometi
a mim mesmo que iria mudar minha vida e provar ao meu pai que eu não era nada daquilo
que ele me chamava.
Terminei meu banho. Enxuguei-me com a toalha e vesti o roupão para sair do banheiro.
À caminho do quarto, cruzei com minha mãe na cozinha que logo me perguntou aonde eu
iria.
-Aonde você vai?
-Estou indo à dermatologista...
-Ah...
Preferi não contar a verdade por enquanto. Achei melhor contar só quando tivesse a
certeza de ter arrumado algo fixo, pois não queria ouvir de ninguém frases pessimistas que
me deixassem pra baixo.
Saí de casa antes mesmo do meu pai levantar, pois não queria encontrá-lo. Tranquei a
porta e antes de cruzar o portão pensei positivo. Olhei na caixa de correspondência pra ver
se tinha alguma coisa e segui em direção ao metrô.
No caminho fui pensando em meu futuro. Minha vontade era morar sozinho e ter minha
liberdade, poder receber quem eu quisesse em casa, não ter que ficar dando satisfações dos
meus atos, mas pra isso eu tinha que arrumar um emprego e me estabelecer
financeiramente.
Chegando na estação do metrô peguei uma fila enorme para comprar bilhete. No meu
bolso só tinham meus documentos e o dinheiro contado pra ir e vir, pois havia sobrado de
troco do dia anterior quando fui pro curso de inglês.
Depois de passar quase quarenta minutos na fila pra comprar bilhete, tive que pegar uma
outra fila pra passar pela catraca. Lá se foram mais quinze minutos até passar pela catraca e
chegar na plataforma. Nunca gostei de pegar metrô na parte da manhã. Além de ser cheio, é muito desagradável
viajar amassado igual sardinha em lata. Sem contar que as pessoas são muito sem educação,
empurram a gente na pressa de entrar e acabam nos machucando. Tudo bem que têm
pessoas que necessitam chegar logo no trabalho, mas temos que ter a consciência de que
vivemos em uma civilização, sendo assim, cada um deve respeitar o espaço do outro para o
bem estar de todos.
Às vezes me dava raiva andar de metrô, pois tinham pessoas que parecia não tomar
banho e encostavam em mim cheirando ruim. Não que eu fosse nojento, mas o mínimo de
higiene uma pessoa tem que ter, não importa sua condição social.
Com o fluxo muito alto de pessoas querendo embarcar para o mesmo sentido o metrô se
torna mais lento, sendo assim, atrasando ainda mais nossa vida. Em dias de chuva a coisa
piora.
Depois de quase duas horas tentando chegar na agência, finalmente consegui. Como se já
não bastasse, tive que pegar uma fila enorme na porta do sindicado dos trabalhadores.
Caminhei até o final da rua onde começava a fila e fiquei aguardando a distribuição de
senha.
A manhã estava um pouco fria. O que mais incomodava era o vento gelado que cortava
meu rosto. Ali parado de braços cruzados, eu via aqueles ambulantes passando e vendendo
chocolate quente, bolo, pão de queijo. Minha barriga chegava a roncar de tanta fome, mas
eu não tinha um centavo no bolso para comprar um pedaço de bolo se quer, assim como
muita gente daquela fila.
Peguei a senha de número 1314. Entrei no galpão de espera, já passavam das 9h. Sentei
em uma cadeira branca de plástico que ficava enfileirada com várias outras e ouvindo um
radinho de pilha que levava no bolso. No teto havia alguns altos falantes que ficavam
informando algumas vagas remanescentes e chamando as senhas.
Meus olhos começaram a ficarem pesados. De braços e pernas cruzadas acabei
cochilando enquanto aguardava ser chamado. Minha barriga doía de fome e meus músculos
tremiam de frio. Assim permaneci até ouvir chamarem a senha de número 1314.
Até que enfim eu seria atendido, pelo menos era o que eu pensava. Fui levado até uma
outra sala dentro do prédio, onde fiquei aguardando por mais um bom tempo antes ser
chamado.
Junto comigo foram outras pessoas com senhas seguidas à minha. Nessa outra sala havia
TV e ar condicionado, tornando o ambiente bem agradável, diferente do clima onde eu
aguardava anteriormente.
Olhei no relógio e já passada das 12h. A cada minuto que passava minha barriga doía
ainda mais, roncando desordenadamente de fome.
Esperei por mais uma hora até ser chamado para fazer o cadastro.
-Bom dia!
-Bom dia!
-É a primeira vez que você vem aqui?
-Sim.
-Então vamos fazer seu cadastro, ta bom?
-Tudo bem.
-Empresta pra mim sua carteira de trabalho, RG e CPF?
-Deixa eu pegar... Ta aqui.
-Eu vou te fazendo algumas perguntas e você vai me respondendo pra eu registrar aqui,
tudo bem? -Ok.
A garota que me atendeu era bem simpática e muito atenciosa, além de ser
educada.Geralmente essas pessoas nos atendem muito mal e com estupidez, mas ela foi
diferente. Respondi algumas perguntas básicas como endereço, telefone, escolaridade, entre
outras, depois de efetuado o cadastro ela me devolveu os documentos e começou a procurar
uma vaga no meu perfil.
-Prontinho Fernando, ta aqui seus documentos.
-Obrigado.
-Agora eu vou fazer uma busca pra ver se encontro uma vaga no seu perfil.
-Uhum.
-Vamos ver... Olha Fernando, tem uma vaga de teleoperador pra suporte à internet, te
interessa?
-Sim!
-Vou imprimir então a carta de encaminhamento para você ir pro processo seletivo.
-Quando vai ser?
-Hoje mesmo às 14h00 no 9º andar... Tudo bem pra você?
-Sem problemas.
-Então é só você subir lá e entregar esse papel...
-Ok. Muito obrigado!
-Por nada. Boa sorte hein Fernando.
-Valeu.
Subi até o pátio e sentei em uma cadeira esperando dar o horário para passar pela
seleção. O tempo já havia esquentado um pouco e já não ventava mais como antes. O
cheiro de pão de queijo que vinha da lanchonete em frente fazia meu estomago roncar de
fome. Enquanto aguardava dar o horário da entrevista eu reparava nas pessoas que lá
também estavam. Havia pessoas de vários tipos, todas com o mesmo objetivo que era
encontrar um emprego.
No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores, dos sindicatos, das autoridades e
dos estudiosos de problemas sociais, enquanto o IBGE fala em taxa de 12%, a Fundação
Seade/Dieese fala em 18% na região metropolitana da Grande São Paulo. A verdade é que
o país tem hoje, em qualquer família alguém desempregado, essa é uma realidade que está
muito próxima de cada um dos brasileiros. O desemprego causa vários problemas: para o
desempregado, para a família e para o Estado.
Minha fome só fazia aumentar, não via a hora de chegar em casa e almoçar, até tontura
eu já estava começando a sentir. Eu nunca havia passado por uma situação como aquela,
me senti humilhado, um lixo, um ninguém. Tive vontade de chorar ao ver uma criança
passando na minha frente com um cachorro quente e lembrar que não tinha dinheiro para
comprar um pra mim, sendo filho de um pai comerciante com renda acima da média desse
país.
Finalmente o horário da seleção chegou. Na porta de entrada já havia uma fila
aguardando para receber uma etiqueta e subir ao 9º andar. Depois que o funcionário
terminou de entregar as etiquetas, passamos pela catraca, que era liberada por um segurança
muito simpático, em seguida fomos em direção ao hall do elevador que ficava no final de
um estreito corredor. Como se já não bastasse, além da fila que havia para passar pela
catraca havia uma outra para pegar o elevador.
Minha barriga gelava de ansiedade e roncava de fome. Ao meu lado estava uma garota
cujo começou a puxar assunto comigo: -Você está indo pra seleção de banda larga?
-Sim e você?
-Também... Como você ficou sabendo dessa vaga?
-Eu vim aqui hoje de manhã e me encaminharam...
-Ah...
-E você?
-Uma amiga me avisou ai eu vim aqui... Ta com medo?
-Um pouco...
-Eu também. Qual seu nome?
-Fernando e o seu?
-Eliane.
-Nossa... Até que enfim o elevador chegou.
Entramos no elevador e subimos até o 9º andar. Eu já suava frio, tamanho era o medo
que eu estava. Assim que saímos do elevador começamos a procurar a sala 3 onde
aconteceria a seleção.
-Ela falou pra procurar a sala 3...
-Deve ser no final do corredor... Aqui é a 1...
-É ali.
Caminhamos pelo corredor até chegar na sala 3. Não foi difícil encontrar, já que o
corredor era comprido e as salas eram divididas por divisórias com números e painéis de
vidro nas paredes.
Abrimos a porta que estava encostada. Dentro da sala não havia ninguém. Sentei na
cadeira ao lado da entrada e ao meu lado se sentou a Eliane que não parava de tremer. Não
demorou muito e a selecionadora chegou recolhendo as cartas de encaminhamento. Deixei
a minha sobre a mesa e voltei para meu lugar. As pernas tremiam, não sei por que quedas
d’água ela escolheu justo a mim pra começar:
-Fernando Viana?
-Eu...
-Pode sentar aqui.
-Obrigado.
-Tudo bem com você, Fernando?
-Tudo sim!
-Já trabalhou com telemarketing alguma vez?
-Nunca.
-Certo... Vou pedir para você ler essas frases aqui pra mim...
-Ta certo.
Ela tirou uma folha de dentro de uma pasta azul com várias frases em formato de trava-
lingua e pediu que eu lê-se algumas.
-Lê pra mim as frases 1, 3, 4 e 6?
-Ok... 1- Cliente chato é um problema...
Confesso que fiquei com medo de gaguejar no começo, pois nessas horas eu sempre
metia os pés pelas mãos e acabava me ferrando. As frases não eram difíceis, mas se eu
ficasse nervoso ou falasse muito rápido, acabaria falando "pobrema", "resistro", foi o que
aconteceu com uma garota. Conjugar corretamente os verbos e concordar plural com
singular já é uma questão de costume, a maior parte das pessoas têm a cultura de comer
palavras, pois crescem vendo os pais falarem assim.
-Muito bem, Fernando. Agora é só aguardar no seu lugar... -Obrigado.
Voltei para a cadeira onde eu estava e a Eliane foi chamada para ler aquelas frases idiotas
que eles chamavam de teste de dicção. Pelo que observei, ela se saiu muito bem, tirando o
fato de que quando se levantou da cadeira acabou derrubando a pasta da selecionadora no
chão.
Enquanto outras pessoas faziam o teste, eu e a Eliane arriscávamos alguns palpites.
-Eai... Você acha que foi bem?
-Não sei... Ela fez uma cara de indiferença...
-Pior foi eu que derrubei a pasta dela.
-Nossa, até eu senti vergonha por você.
-Hahaha... Nem me lembre.
Depois de ficar quase uma hora aguardando todos fazerem o teste, nos chamaram para
fazer uma prova.
-Eu vou passar essas duas folhas pra vocês. Não se preocupem que a prova não é difícil, é
necessário uma nota mínima de 7 pontos para atender suporte banda larga, quem não
atingir os pontos necessários não tem problema, nós indicamos pro departamento de
contas.
Quando ela falou de prova eu gelei. Esse negócio só serve mesmo pra liberar os
candidatos distraídos, o pior de tudo é que ninguém utiliza aquele monte de babaquices que
eles costumam perguntar nas provas, se não fosse isso muita gente teria a oportunidade de
mostrar seu profissionalismo e potencial desempenhando sua função.
Peguei uma folha do questionário e passei o resto para trás, não tínhamos muito tempo
para fazer a prova, então me concentrei ao máximo para terminar logo e depois poder rever
as respostas.
O clima dentro da sala era de nervosismo total, às vezes alguém dava uma espiada na
prova do lado, mas tudo na maior discrição para não ser pego pela selecionadora. Naquele
momento eu relembrei do meu tempo de escola, as épocas de provas onde todo mundo
escrevia a cola na carteira, espiava a folha do colega e seguiam o dilema: "Quem não cola,
não sai da escola".
Assim que terminei minha prova levantei da cadeira e a coloquei sobre a mesa da Tânia.
Depois voltei para o meu lugar e fiquei aguardando todos terminarem. Estralando os dedos,
roendo as unhas. Eu acho que essa é uma das piores partes de uma seleção, onde você fica
esperando pelo resultado por alguns minutos que custam passar, parece durar uma
eternidade.
-Vão passando as provas pro colega da frente, por favor...
Atrás de mim estava a Eliane que me entregou as provas e comentou:
-E ai, foi bem na prova?
-Bem mal, que prova difícil era aquela?
-Meu, estava muito difícil...
Nessa hora um rapaz que estava ao lado da Eliane entrou na conversa e começamos a
comentar sobre as questões.
-Vocês acharam a prova difícil?
-Demais.
-Eu também achei.
-Com certeza eu fui mal... Meu nome é Roberto, prazer!
-Meu nome é Fernando.
-Eu me chamo Eliane. Ficamos os três conversando por um bom tempo até sair o resultado. O Roberto era um
cara alegre, divertido e bem falante. A Eliane também falava pelos cotovelos e quando os
dois se juntaram para conversar eu nem tive chance de interromper, acabei ficando com o
papel de expectador.
Depois de quase vinte minutos a Tânia, que era uma das selecionadoras, começou a
chamar um por um para dar o resultado da prova, como eu fui o primeiro a terminar acabei
sendo o primeiro a ser chamado.
-Fernando Vianna?
-Eu...
-Fernando, você não atingiu a pontuação necessária para as vagas de suporte, sua média
foi 6,5...
-Por meio ponto?
-Pois é, mas não tem problema, você continua concorrendo à vaga para "contas" que foi
para a qual você foi encaminhado desde o início.
-Então pra que a prova?
-É porque tem algumas vagas pra suporte, aqueles que conseguirem atingir a pontuação
nós encaminhamos, se o candidato não passar ele continua concorrendo à outra vaga, mas
o salário é o mesmo.
-Ah, tudo bem.
-Então, é só você aguardar que daqui a pouco eu já aviso quem vai pra dinâmica na
semana que vem.
-Obrigado.
Voltei pro lugar onde eu estava e fiquei aguardando ela avisar quem passou. Claro que
todos dentro daquela sala queriam ouvir uma resposta positiva, porém foram apenas três
pessoas que passaram na prova, o que deixou outras revoltadas.
-Calma pessoal, tem 100 vagas pra preencher, não se preocupem que têm vagas pra todo
mundo.
Tirou um peso enorme das minhas costas ouvir que havia mais de cem vagas a serem
preenchidas, pelo menos uma delas eu iria fazer de tudo para preencher e chegar em casa
esfregando na cara do meu pai, fazendo ele engolir tudo que ele havia falado a meu
respeito.
-Nossa... Eu preciso estar entre esses cem selecionados...
-Minha amiga disse que não é difícil...
-Tomara.
-Pessoal... Os nomes que eu chamar é que estão dispensados, aqueles que eu não chamar,
por favor, aguardem na sala...
Nessa hora comecei a ranger os dentes, minha mão ficou gelada, senti um frio na espinha
e no umbigo ao mesmo tempo em que suava frio, só fiquei em paz quando a Tânia falou o
último nome e dentre todos que ela chamou o meu não estava.
-Chamou seu nome, Fernando?
-Não e o seu?
-Também não.
-Chamou você, Roberto?
-Não.
-Então eu acho que passamos.
-Também acho. Ficaram poucas pessoas na sala junto com a gente. O tempo todo eu mantive a pose e me
segurei para não manifestar a alegria que eu estava, pois por dentro eu estava pulando,
gritando de felicidade.
-Bom, parabéns para vocês que ficaram...
-Obrigado.
-A partir de quarta-feira vocês irão começar a fazer o treinamento na empresa... Esse
treinamento não é remunerado e pode ser eliminatório. Depois desse treinamento, vocês
irão fazer o exame médico e levar a documentação no RH, para depois iniciarem o
treinamento do produto no prédio onde vocês irão trabalhar...
-Por quanto tempo vai ser esse treinamento de produto?
-O treinamento do produto é de vinte dias, nos primeiros quinze dias vocês vão bancar o
vale transporte de vocês, depois a empresa paga o retroativo até o final do mês...
-São remunerados esses vinte dias?
-Sim... A partir do momento em que vocês forem registrados, já vão receber como
funcionários... O treinamento começa na segunda feira às 09h00, anotem o endereço...
Contente foi pouco, fiquei hiper feliz por ter essa oportunidade de trabalhar em uma
empresa multinacional. Finalmente minha vida estava começando a se arranjar e dali pra
frente era só lutar pelos meus sonhos.
No Brasil, apenas 36% dos jovens entre 15 e 24 anos têm emprego, outros 22% já
trabalharam, mas estão desempregados atualmente. Em média os jovens demoram 15 meses
para conseguir o primeiro emprego ou uma nova ocupação nas regiões metropolitanas, no
total 66% deles precisam trabalhar porque todo o seu ganho, ou parte dele, complementa a
renda familiar que não é suficiente para manter toda a família.
Os dias pareciam não passar, a ansiedade tomava conta de mim para que chegasse logo a
segunda feira. Na noite anterior nem consegui dormir direito, rolei a noite inteira na cama.
Por volta de 07h levantei e fui tomar um banho quente antes de sair. Procurei não enrolar
muito, pois queria sair antes que meus pais acordassem, para não ter que ficar respondendo
aos questionamentos idiotas do meu pai e sem precisar ouvir suas palavras de incentivo que
mais me deprimiam do que ajudavam.
Saí da estação do metrô e comecei a procurar pela rua que estava anotada no papel.
Depois de perguntar para três pessoas finalmente achei, quando cheguei em frente ao prédio
havia muita gente na porta. Ainda era cedo. O treinamento começaria às 09h e faltavam
mais de trinta minutos. Logo depois de mim chegou o Roberto com um caderno na mão, ao
me ver veio até mim me cumprimentar, logo atrás dele avistei a Eliane que parecia estar
mais perdia que cego em tiroteio, no meio daquele monte de gente.
-Bom dia!
-Bom dia.
-Faz tempo que você chegou?
-Alguns minutos apenas.
-Bom dia Fernando...
-Bom dia Eliane.
-Será que esse pessoal todo é pra treinamento?
-Acho que não, tem alguns com crachá da empresa no pescoço...
-É...
Enquanto esperávamos, ficamos conversando sobre algumas experiências anteriores de
trabalho. Morremos de rir com o Roberto falando de seu último emprego em uma loja de
shopping. Ao ouvirmos o chamado do segurança formamos uma fila em frente à porta para confirmar os nomes da lista, conforme ele ia chamando o pessoal ia entrando no prédio e
seguindo para a sala de treinamento. Fiquei um pouco perdido andando pelos corredores
que mais pareciam um labirinto, com curvas e saídas para todos os lados. Ao encontrar a
sala escolhi um lugar bem no meio, as cadeiras eram estilo colegial, com apoio para
escrever do lado esquerdo e assentos de couro preto bem macio, tudo cheirando novo. Um
leve cheiro de tinta circulava pelos ares, de certo por causa da reforma que o prédio estava
passando. Enquanto esperava, fiquei observando algumas pessoas, não só eu, mas todos
daquela sala estavam ansiosos e apreensivos, afinal, todos tínhamos um objetivo em
comum que era conseguir aquele emprego e aliviar o lado financeiro.
Um silêncio mortal brotou dentro daquela sala quando uma moça cheio de pacotes nas
mãos cruzou a porta e se apresentou como Cíntia.
-Bom dia pessoal!
-Bom dia!
-Nossa... Mas que "Bom dia" desanimado...
-Bom diaaaaaaaaaaaaaaaa...
-Opa, começou a melhorar... Galera, meu nome é Cintia, ficarei com vocês por esses 3 dias
de treinamento da empresa que também é eliminatório. Procurem não atrasar, não faltar,
tudo isso será avaliado nesse período, portanto cuidado.
À medida em que ela ia interagindo conosco, foi nos deixando mais à vontade, o seu jeito
meigo de menina e divertido ia nos tirando o medo e tensão.
-Galerinha, eu vou passar pra vocês algumas informações a respeito da empresa, ok?
-Ok.
-Cada prédio da empresa nós chamamos de "site"... O site que vocês irão trabalhar é o
Oeste 1, um prédio alto, azul todo espelhado próximo do metrô... Alguém já viu?
-Eu...
-Bonito, né?... Bom, a escala de trabalho de vocês será de 6x1, com quinze minutos de
pausa lanche e cinco minutos de pausa particular. Vocês receberão um cartão lanche igual
esse aqui... Com ele, vocês vão poder comprar lanche nas máquinas da empresa que ficam
dentro do breack de cada andar. O beneficio do cartão pode ser flexibilizado, sendo 50%
do valor no cartão lanche e 50% no cartão Vale Alimentação.
-Mas isso é opcional?
-Sim, no "check-list" que daqui a pouco vou passar pra vocês tem a opção de flexibilizar ou
deixar tudo no cartão lanche. O salário de vocês será aquele passado na entrevista, estão
todos cientes?
-Sim!... E o vale transporte?
-O vale transporte, a empresa paga em dinheiro até duas conduções, ou seja, duas ida e
duas volta que será depositado em conta corrente junto com o salário, todo último dia útil
do mês...
Naquele dia a Cintia basicamente só falou da empresa e dos benefícios que iríamos
receber, nos entregou a lista de documentações necessárias e nos encheu de esperanças.
Embora eu praticamente já fosse funcionário da empresa, só me sentiria seguro quando
carimbassem minha carteira com o registro da empresa, deixando de ser mais um jovem
desempregado desse país.
Chegou o dia do treinamento de produto no site Oeste 1. Saí de casa duas horas antes
com medo de me atrasar, meu horário de treinamento seria das 16h30 às 20h30, claro que
eu adorei, pois não teria que acordar cedo. Chegando na recepção do prédio, encontrei o
Roberto na fila para pegar o crachá, logo depois de mim chegou a Eliane. -Boa tarde!
-Oi Eliane, tudo bem?
-Tudo e você?
-Beleza, Fernando?
-Beleza e você, Roberto?
-De boa.
-Vai ser em qual andar esse treinamento?
-13º andar, Ala C.
Parei em frente uma web can e tirei uma foto para receber o crachá de visitante e poder
entrar no prédio. Depois de pegar a "alma", cruzamos a catraca e subimos até o décimo
terceiro andar, onde seria realizado o treinamento. Entramos por uma porta que ficava de
frente à uma copa, cujo aviso na parede dizia ser a Ala A. Perguntamos para uma garota
que passava onde que ficava a Ala C e seguimos pelo corredor até o local onde ela havia
indicado, passando pela Ala B até chegar nas P.As reservadas para nós.
-Nossa... O que é isso, um cemitério?
-Hahaha...
A Ala C parecia estar inutilizada há algum tempo, pois não eram todas as P.As que
tinham computador e as que tinham na maior parte estavam quebradas. Algumas máquinas
nem ligavam.
-Você vai sentar onde, Eliane?
-Posso ficar aqui?
-Pode.
Começou a chegar um monte de gente e ir ocupando as P.As do fundo. Como eram
espaçosas, cada P.A era ocupada por duas pessoas. Pouco tempo depois chegou um rapaz
com um projetor de slides e começou a montá-lo em frente uma tela que estava armada à
nossa frente.
-Boa tarde pessoal!
-Boa tarde!
-Meu nome é Douglas e sou eu que vou dar treinamento pra vocês de conexão. Antes de
começar vou passar a lista de presença, vocês devem preencher com o nome completo e
assinar na frente, só assinem na data de hoje por favor e procurem não rasurar.
Começou a passar a lista de um por um, iniciando pela Karen que estava bem na ponta.
Enquanto o pessoal ia assinando a lista o Douglas falava sobre a entrega de documentos
que seria adiada para o meio da semana. Quando chegou na vez da Eliane assinar, logo
percebi que algo de errado estava acontecendo, disfarçadamente estiquei o olho pra folha
que estava na mesa dela que sem graça me olhou.
-Já assinou, Eliane?
-Sim...
-Mas hoje não é dia 06, é dia 05.
-Ai... Fala baixo...
-E agora? Vão perceber...
-Pede outra folha para o Douglas...
-Eu não, pede você.
-Eu quero assinar a lista, vocês vão demorar?
-Calma... A Eliane preencheu a data errada...
Nessa hora quase todo mundo ruborizou, chamando a atenção do Douglas que passava
um slide na tela. -O que acontece?
-A Eliane preencheu a data errada na folha...
-Pessoal, tomem cuidado com essa folha, porque elas são controladas, não temos muitas
pra ficar passando.
Tivemos que assinar outra folha e dessa vez quem começou a assinar foi a Eliane, para
não corrermos o risco dela errar depois que todo mundo já tivesse assinado e ter que refazer
tudo outra vez.
Durante aquela semana aprendemos quase tudo sobre conexão e de como o serviço de
banda larga funcionava no computador, além disso aprendemos como funcionavam os
cabos de telefonia em São Paulo e também a mexer em alguns sistemas da empresa.
Na sexta feira acordei um pouco desanimado e cansado, parecia que um trator havia
passado por cima de mim. Fui direto pro banheiro tomar um banho morno para ver se
relaxava um pouco. Depois almocei e fui para o treinamento forçado, pois estava sem
nenhuma vontade de sair de casa.
Logo quando cheguei na empresa peguei o crachá e subir para o décimo terceiro andar.
Ainda não havia chegado ninguém e o pessoal da tarde já havia ido embora. Sentei na
última P.A do corredor e enquanto não chegava ninguém fiquei acessando meus e-mails na
internet.
-O que você está fazendo, Fernando?
-Vendo meus e-mails.
-Tudo bem com você?
-Tudo e com você, Eliane?
-Tudo também, só chegou a gente?
-Acho que sim, fui o primeiro.
-Você vai ficar aqui?
-Vou, quer sentar nessa cadeira?
-Guarda aí pra mim, vou beber água e já volto.
-Ta bom.
Continuei checando meus e-mails até que começou a chegar o pessoal. Fechei as janelas
do explorer e fiquei aguardando o treinamento começar.
-Boa tarde pessoal!
-Boa tarde!
-Vou passar a lista de presença e vocês já vão assinando que hoje tenho bastante coisa pra
passar para vocês.
-Ok.
Abri meu caderno e comecei a anotar tudo que ele falava resumidamente, meu braço já
estava até doendo de tanto escrever, não via a hora de chegar o horário da pausa para
descansar um pouco e comer, pois eu estava morrendo de fome.
-Galera, vamos fazer uma pausa agora e daqui vinte minutos a gente continua.
-Até que enfim, não agüentava mais.
-Você anotou tudo?
-Sim.
-Quantas folhas deu?
-6.
-Depois você me empresta?
-Claro, você vai descer até o TS?
-Vamos? -Vamos, mas antes deixa eu ir até o breack esquentar o lanche o microondas.
-Também quero esquentar o meu.
Fomos eu e a Eliane até o breack e ao chegar quase nem conseguimos entrar, pois estava
cheio. Assim que esquentamos nosso lanche descemos até o TS para comer e respirar um
pouco de ar.
-Eu não entendi nada do que ele passou hoje.
-Nem eu, foi tudo tão rápido...
-A gente aprende na prática quando entrar na operação.
Assim que voltamos do breack meu celular começou a tocar, atendi rapidamente para
não chamar atenção, pois não poderia usar celular no horário de treinamento:
-Alô?
-Fala viado, tudo bem?
-Tudo e você, Rafa?
-Também, onde você está?
-Estou no treinamento...
-Que treinamento?
-Eu não te falei que arrumei um trampo?
-Mas que viado, nem me falou nada, né?
-Ué... Eu pensei que tinha te contado.
-Pra mim não. Enfim... Te mandei um torpedo no celular, você viu?
-Não recebi.
-Caramba Fernando, mas você anda lesado mesmo.
-Você ligou pra me xingar?
-Claro... Que não. Liguei pra saber se você vai comigo na balada hoje.
-Hoje?
-É... Hoje.
-Você sabe que eu não curto balada de sexta feira.
-Pode parando, nós vamos sim pra balada hoje.
-Humpft.
-Que horas você sai daí?
-O treinamento termina às 20h30.
-Bom, agora são 19h, até você chegar na sua casa já vai ser umas 21h, a balada começa a
ficar boa lá pelas 00h...
-Pode parar. Me liga depois pra eu confirmar se irei ou não.
-Mas...
-Agora eu não posso falar, tchau.
Desliguei antes que o Douglas visse e me chamasse atenção por estar falando ao celular,
aliás, ele nem deveria estar ligado no horário do treinamento, mas como eu usava também
para ver horas acabava deixando no silencioso.
O Rafael era meu melhor amigo. Nos conhecemos por intermédio de um conhecido meu
que era namorado dele. O namoro deles acabou e nós continuamos amigos, ele sempre
tendo idéias malucas e me incluindo nelas, essa mania que ele tinha de me chamar pra sair
de última hora me deixava louco de raiva.
Não via a hora daquele treinamento acabar. Tudo que o Douglas falou entrou por uma
orelha e saiu pela outra. Quando deu 20h30 fui um dos primeiros a pegar o elevador e ir
embora, pois já não agüentava mais. Deixei o prédio louco para pegar logo o metrô e chegar em casa. Quando eu estava no meio do caminho meu celular começou a tocar, só
poderia ser o Rafael outra vez me chamando para ir a balada com ele.
-Alô?
-Nando... Te encontro 23h30 na catraca do metrô.
-Rafael, eu já...
-Tchau Fernando.
-Eu já disse que não vou.
-Amigo, por favor, eu preciso que você vá comigo...
-Humpft... O que acontece?
-Agora não dá pra explicar, te conto depois, ok?
-Tudo bem.
-Sabia que poderia contar com você.
-Amigos são pra essas coisas...
-Por isso que eu te amo.
-Tchau Rafael.
-Até daqui a pouco.
Chegando em casa subi até meu quarto para deixar o caderno e a apostila do treinamento.
Peguei minha toalha e fui para o banheiro tomar um banho bem rapidinho. Já era quase 23h
e meus pais ainda não havia chego. Morto de fome tive que ir até a cozinha preparar algo
pra comer. Olhei dentro dos armários e não havia muita opção, acabei escolhendo a mais
fácil que era macarrão com um molho que havia congelado no freezer. Enquanto a água
para o macarrão esquentava o molho descongelava no microondas. Mandei um torpedo
para o Rafael dizendo que iria me atrasar um pouco.
Depois de jantar e arrumar toda a bagunça que havia feito na cozinha, escrevi um bilhete
para minha mãe dizendo que passaria a noite fora, pendurei na porta da geladeira e fui ao
encontro do Rafael.
Quando cheguei na estação do metrô o avistei andando de um lado para o outro nervoso
com meu atraso e bufando de raiva, com certeza eu havia estragado algum plano que ele
tinha em mente. Cruzei a catraca com o aviso do alto-falante:
“Atenção, informamos que a partir desse momento, todas as nossas operações estão
encerradas. Boa noite”.
-Mas que demora...
-Pensou que eu não vinha mais?
-Eu marquei com o garoto às 23h30, olha que horas são?
-00h40...
-Pois é, mais de uma hora de atraso.
-Vai ficar brigando comigo?
-É melhor a gente ir logo...
-Também acho, antes que eu me arrependa e volte pra casa.
-Voltar pra casa sem metrô?
-Pra isso existe táxi.
-Ta bom, vamos parar de brigar.
-Só se você me pedir desculpa.
-Humpft... Desculpa.
-Agora sim, vamos. Subimos a escada rolante correndo e seguimos em direção à balada, caminhando em
passos largos para ganhar tempo. A lua estava linda e o céu todo estrelado, já as ruas
estavam quase desertas. Embora São Paulo funcione 24h, o movimento era mínimo. De
longe avistei a fila que ia da porta da boate e chegava até a esquina, era desanimadora,
pensei em desistir na mesma hora, esse negócio de pegar fila não era comigo.
-Você já viu o tamanho da fila para entrar?
-Caralho...
-Humpft... Você tem mesmo certeza que quer entrar aí?
-Você não vai me deixar na mão agora, vai?
-Claro que não, mas vontade não me falta.
Entramos no final da fila e ficamos em pé aguardando aquela multidão consegui entrar e
chegar nossa vez, o que praticamente estava parecendo ser impossível, pois a fila quase não
andava. O Rafael não se continha de ansiedade para encontrar o garoto no qual havia
marcado o encontro. A cada dez minutos ele ligava para o moleque, mas o telefone só dava
ocupado.
-Mas que porra...
-O que foi?
-O telefone dele só dá ocupado.
-Deve estar fora de sinal, tenha paciência...
-Ah ta, se lá dentro não dá sinal, como vou conseguir falar com ele?
-Mande um torpedo, se por ventura ele passar em algum lugar que dê sinal poderá receber
a mensagem e vai saber que você está à sua procura...
-Boa idéia... O que seria de mim se não fosse você?
-Sem exageros.
Em menos de dez minutos após ter enviado a mensagem para o garoto, ele retornou para
o Rafael que desesperado para atender só deixou tocar uma vez.
-Alô?... Estou na fila esperando pra entrar... Tudo bem... Te encontro lá... Espera por mim.
Beijo!
-Aliviou a alma?
-Nossa... Não vejo a hora de encontrar com ele...
-Logo chega nossa vez, se acalme.
A impressão que dava era que o Rafael estava na seca total, ou então o garoto deveria ser
muito bonito para deixá-lo naquela gastura de dar agonia.
Depois de ter esperando por um longo tempo na fila, conseguimos entrar.
Continua...
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